sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

TECENDO A REDE, MAS COM QUE PARADIGMA?


Em seu artigo a autora Maria Cândida Moraes, contrapõe à abordagem instrucionista a abordagem construcionista do conhecimento, induzindo ao fator negativo da primeira, pois essa prática nos remete ao passado, reforçando o paradigma tradicional, retornando a uma “educação bancária.”.
A metodologia construcionista coloca ênfase na construção do conhecimento, entretanto a metodologia instrucionista dá ênfase ao processo de aquisição do conhecimento, que o indivíduo acaba não interagindo com o objeto, mediante isso, não há uma aprendizagem significativa.
Quando se fala em aprendizagem podemos mostrar através de pesquisas feitas, as novas ferramentas tecnológicas que podem favorecer para essa interação:
• O desenvolvimento de processos construtivos de aprendizagem,
• Criação de novos espaços de aprendizagem,
• Novas formas de representação da realidade
• Ampliação de contextos
• Incentivo aos processos cooperativos de produção do conhecimento. .
• O desenvolvimento do pensamento reflexivo (Valente, 1999), .
• Consciência crítica e o encontro de soluções criativas aos novos problemas que surgem (Nevado, 1999).
O uso adequado e competente dessas ferramentas computacionais possibilita:
• A construção de ambientes virtuais de aprendizagem que privilegiam a construção do conhecimento compartilhado,
• O desenvolvimento de processos reflexivos, .
• Perspectivas interacionistas geradas entre pessoas e objetos de conhecimento. .
Mas, temos que proporcionar nesses ambientes é o lado criativo, crítico, organizado e inovação para o uso das ferramentas tecnológicas, para o indivíduo ter um melhor conhecimento.
Segundo Laszlo (2000:10), precisamos observar quenovas redes de comunicação e de informação continuam a crescer rapidamente, conectando pessoas em todo mundo. Mas elas não podem garantir um mundo humano e sustentável. Se as redes de informação continuar a ser dominadas por aqueles que têm os meios para defender os seus próprios interesses, freqüentemente míopes, eles irão tornar os ricos mais ricos, sem preocupação com os crescentes números de pobres destituídos.” Ou seja, conforme Gaston Pineau, (2000), o grande desafio mundial da atualidade é a necessidade que temos que modernizar sem excluir!
Então, como educar para uma sociedade do conhecimento que requer sujeitos autônomos, críticos, criativos, eternamente aprendentes, usando técnicas e metodologias epistemologicamente equivocadas e cientificamente defasadas?

Novos cenários mundiais- Novas metodologias

As novas tecnologias da informação e da comunicação vão além de uma ferramenta pedagógica. Facilita a busca de informações e dados, fornecendo feedback imediato, bem como, serve para o desenvolvimento de atividades que facilitem a aquisição da autonomia, da solidariedade, da criatividade, da cooperação e da parceria, criando ambientes possíveis de vivenciar valores humanos superiores associados aos processos de construção de conhecimento.
A evolução acelerada da ciência e da tecnologia exige espaços e sistemas abertos, conhecimentos emergentes e não-lineares, processos auto-organizadores, com novas metodologias e ambientes interativos e transdisciplinar que compreendam que o aprendizado é um processo de construção individual/coletivo.
Vida, experiência e aprendizagem estão intrinsecamente entrelaçadas em nossa corporeidade, já que, simultaneamente, vivemos, experimentamos, aprendemos e conhecemos o que nos leva a compreender que o processo de aprendizagem é sempre integrado, amplo, multidimensional e muito mais rico do que se supunha até agora.
Com ou sem o uso das tecnologias, necessitamos de metodologias que compreendam que desenvolvimento e aprendizagem constituem processos integrados que abrangem várias dimensões humanas. Fazendo com que o aprendiz/aprendente, com sua sensibilidade, intuição, emoção e corporeidade condicione o conhecer e o fazer. Sabemos que não existe uma aprendizagem formal específica ou ao uso desta ou daquela ferramenta. Aprendizagem e vida já não mais se separam, já que, simultaneamente, vivemos, experimentamos, aprendemos e conhecemos o que nos leva a compreender que o processo de aprendizagem é sempre integrado, rico, amplo e multidimensional.

Reconfigurando o cenário epistemológico

O processo de construção do conhecimento, o desenvolvimento da aprendizagem, o conhecimento em rede, os processos de auto-organização, a autonomia e a criatividade, influenciam na construção e reconstrução não apenas da educação, mas, sobretudo a um melhor reposicionamento do aprendiz/aprendente diante do mundo e da vida a partir de uma compreensão mais adequada do que seja a realidade. .
São teorias que combatem fortemente o modelo causal tradicional presente nas teorias instrucionistas. Essas teorias revelam alguns critérios, princípios e valores que induzem práticas pedagógicas mais dinâmicas, integradoras, sistêmicas, inovadoras e bem fundamentadas com uma maior clareza conceitual em relação ao conhecimento e à aprendizagem, ajudando a desenvolver uma prática pedagógica mais inovadora e bem fundamentada, facilitando a compreensão nos fenômenos educacionais, e colaborando para compreendermos melhor as questões relacionadas ao processo de construção do conhecimento, bem como o funcionamento de comunidades virtuais de aprendizagem. .
O texto fala também sobre a questão dos parâmetros sistêmicos. Segundo Vieira, (2000), estes parâmetros envolvem uma organização, palavra que expressa a funcionalidade e a identidade de qualquer sistema a partir de um conjunto de componentes e das relações de produção que o caracteriza. Um dos parâmetros fundamentais que todo sistema possui é o seu Ambiente, onde as interações e as relações ocorrem. Para Maturana (1995), ambiente é o espaço onde o ser vive se realiza como entidade autopoiética. É o espaço relacional entre o sistema e o meio, o local onde ocorrem as trocas energéticas, materiais e informacionais nos mais diferentes níveis. Outro parâmetro sistêmico importante é a Conectividade, capacidade de estabelecer relações, conexões, enlaces, vínculos que permitem a interatividade e a interdependência entre o sistema e o meio. A Auto-organização é a condição que lhe permite a autoprodução de si mesmo e a adaptação às condições em que se encontra. Complexidade é a quantidade de informações que possui um organismo ou um sistema qualquer, indicando uma grande quantidade de interações e de interferências possíveis nos mais diversos níveis. A complexidade aumenta com a diversidade de elementos que constituírem o sistema.

Perspectivas implícitas no pensamento ecossistêmico: implicações na educação e na organização de comunidades virtuais.

Pensamento sistêmico =pensamento-chave, fundamental, processo de construção do conhecimento e o funcionamento de comunidades virtuais. Deve possuir uma estrutura aberta, em permanente processo de construção e reconstrução. Não podemos ignorar esta estrutura conceitual importante que envolve a auto-organização, a complexidade, os sistemas dinâmicos adaptativos e que nos traz uma nova visão desafiadora do conhecimento. Alterando a relação ética e teórica do ser humano consigo mesmo, com os outros. Essa nova visão requer transformações na forma de ser, de atuar e de estar no mundo, bem como o de transformar a concepção do que seja o processo de construção do conhecimento e a mediação pedagógica. .
Então, como relacionar estes parâmetros sistêmicos com desenvolvimento cognitivo, aprendizagem e, em especial, aprendizagem e novas tecnologias da informação e da educação?
O pensamento eco-sistêmico pressupõe:
* A existência de um dinamismo intrínseco envolvendo as coisas da natureza
* Os instrumentos da cultura e da própria sociedade.
* Idéia de movimento, .
* Processos auto-reguladores, interdependentes, um contínuo vir a ser. .
* Processo permanentemente aberto, .
* Contínua construção e reconstrução.
O pensamento eco-sistêmico acredita que:
* Educação= sistema, simultaneamente, aberto e fechado.
* Organizacionalmente fechado e estruturalmente aberto. .
* Sistemas educacionais=estruturas dissipadoras de energia, auto-organizadoras, aceitando o desconhecido, o inesperado, o imprevisível e se auto-organizando a partir de novas conexões e relações. Podendo ser estendida às comunidades virtuais, a partir das relações de cooperação, colaboração e parcerias que se estabelecem entre os seus componentes. Este novo modo de pensar, associado às novas tecnologias da comunicação e da informação, pressupõe processos interativos, dinâmicos, abertos, aonde a liberdade de expressão vá além do determinismo e da linearidade tão presente nos pré-requisitos estabelecidos pelo ensino tradicional e que muitas vezes criam impedimentos para o desenvolvimento natural do aprendiz. .
Segundo Baserab Nicolescu, (1999), "o pensamento eco-sistêmico nos incita a criar novas metodologias transdiciplinares nos processos de construção do conhecimento, que seja capaz de mediar os diferentes diálogos entre as diversas áreas do conhecimento e que, ao mesmo tempo, compreenda a co-evolução do ser humano em sintonia com universo”. É importante que todos compreendam que vivemos e convivemos dentro de um mesmo espaço, que pertencemos a um mesmo universo e que dependemos individualmente de cada ser e ao mesmo tempo do coletivo, promovendo transformações na prática pedagógica e nas propostas curriculares, levando o indivíduo a pensar de forma mais global e integradora e a compreender mais facilmente que o universo é um lugar de aprendizagem contínua.
Assim como coloca Fagundes (1999) “Somente assim poderemos utilizar as novas tecnologias para construirmos redes de conexões não apenas preocupadas em favorecer o acesso à internet às populações carentes e marginalizadas, mas que estejam voltadas para o desenvolvimento de uma inteligência coletiva, para o exercício de uma cidadania fraterna e solidária”.

Manual do Tutor do Pead

A autora Maria Cândida Moraes apresenta sua preocupação com os cursos em EAD e o uso das novas tecnologias como ferramentas meramente instrucionistas ou informativas. Em contrapartida, a autora apresenta uma proposta epistemológica diferenciada, tendo em vista um máximo aproveitamento dos recursos tecnológicos que a EAD pode promover, no sentido de superar barreiras temporais, espaciais e disciplinares através de novas metodologias, novas práticas e novos ambientes. Uma proposta que apresenta as TICs como fonte de informação, investigação e descoberta individual ou em grupos, e que também reconhece as funções construtiva, reflexiva e criativa destas ferramentas.
Ao comparar o Projeto Pedagógico do PEAD à proposta da autora, é possível reconhecer muitos pontos convergentes, principalmente em relação ao resgate do indivíduo multidimensional e inteiro, da inteireza humana - intuição, imaginação, emoção, razão - como se pode observar a partir da análise dos elementos que compõem este Projeto. .
O princípio norteador do curso de Pedagogia na modalidade à distância – “A compreensão da dinâmica social e da rede de relações que a cria e sustenta, assim como do espaço que nela ocupa a educação” (Guia do Tutor) - reflete a principal preocupação da autora em relação à aprendizagem: vida e aprendizagem andam juntas. Neste sentido, a utilização de ferramentas e atividades que desenvolvam a autonomia, solidariedade, criatividade, cooperação e parcerias e o uso de ambientes virtuais de aprendizagem, podem proporcionar a vivência de valores humanos superiores, ativar processos cognitivos, permitir novas representações do mundo e conseqüentemente, transformar as redes sociais e suas relações.
A própria organização dos pressupostos básicos do projeto pedagógico, entre eles a autonomia na definição do currículo, a relação entre prática e pesquisa e a articulação entre as disciplinas, são elementos que demonstram a clara intenção de proporcionar aos alunos experiências que privilegiam a construção do conhecimento compartilhado, o desenvolvimento de processos reflexivos, numa perspectiva interacionanista, confrontando assim projetos que controlam e decidem o que, quando e como o aluno deve aprender, sem levar em conta suas necessidades reais. A definição dos objetivos para o curso também são um reflexo da intenção de constituir o aprendente como micro ator de uma rede de relações/interação mútua, simultânea e recorrente: “Preparar o professor para a reflexão teórica permanente e a recriação das práticas escolares (...)”; “compreender o contexto histórico (...)”: “buscar articulação (...)” (Guia do Tutor); entre outros. .
O pensamento reflexivo, a consciência crítica, a construção de questionamentos e a busca de soluções criativas são elementos decisivos para a construção de um projeto que se preocupa em promover atividades que enriqueçam os alunos através de novas experiências e novas aprendizagens. Neste sentido, a autora já apresenta dados referentes a pesquisas realizadas na própria UFRGS, pesquisas relativas ao uso das novas tecnologias na criação de novos espaços de aprendizagem, novas formas de representação da realidade, de ampliação de conceitos e maior incentivo aos processos cooperativos de aprendizagem. Para o PEAD, este compromisso com uma nova prática pedagógica é evidenciado em sua proposta metodológica, caracterizada pelo compartilhamento de ações interdisciplinares, pelo trânsito entre teoria e prática, articulação e planejamento de atividades integradas e formação de comunidades de aprendizagem.
Alguns cursos à distância sofrem pela escolha de um enfoque centralizado e descontextualizado. Transmitem conteúdos, escolhem processos diretivos rígidos, são condutistas e promovem a memorização mecânica e não a compreensão de conceitos. Este é um problema enfrentado não pela modalidade à distância, mas pela escolha de um método e de um paradigma que não proporcionam a operacionalização, a criação e a construção do conhecimento. Uma nova epistemologia permite que alunos, professores e tutores experimentem novas formas de pensar, representar, armazenar, conhecer e disseminar informações. A autora reafirma a necessidade de mudanças, baseada nos novos paradigmas da ciência, nas novas metodologias e práticas, a partir dos conceitos de sistemas abertos/conhecimentos emergentes e não lineares/processos reguladores/economia global e sociedade digital. Apresenta tal modelo de ciência como uma nova “fase evolutiva” humana - a fase do pensamento reflexivo e sistêmico, complexo, dialógico e transdisciplinar – fato que determinaria uma nova visão educacional. Mais uma vez tais idéias encontram repercussão no Projeto Pedagógico do PEAD, em sua organização didático-pedagógica, através da estruturação das interdisciplinas, da integração proposta pelo seminário integrador e da articulação a partir de um eixo e suas temáticas. “Nessa estrutura, a interação entre todos vai favorecer a discussão em rede, que se desencadeará a partir de questões problemas ou temas (...).” (Guia do tutor). .
Além disto, as estratégias de apoio à aprendizagem e a garantia de comunicação entre todos os envolvidos no processo tem como base uma metodologia interativa e problematizadora. Tais práticas, dinâmicas, integradoras e holísticas, requerem maior clareza conceitual e pressupõem a construção de uma rede de relações e a consolidação de conceitos de autopoiése, estruturas dissipatórias e realimentação. Neste sentido a autora sustenta sua tese a partir de novas teorias científicas que relacionam sujeito e ambiente: “somos o que são os nossos fluxos – trocas energéticas, materiais e informacionais” (Moraes). A conectividade é a capacidade de estabelecer tais relações, conexões, enlaces, vínculos entre sistema e meio.
Neste novo cenário epistemológico, a autora destaca dois conceitos principais: o pensamento ecológico (relacional, em rede, aberto) e a Teoria da complexidade (pensamento sistêmico, complexo, múltiplo). Ao relacionar tais conceitos, altera a relação ética e teórica do ser humano, altera concepções e mediações, refere-se ao “pensamento ecossistêmico” como um processo aberto, em contínua reconstrução, indica a existência de um dinamismo intrínseco, baseado na auto-organização, em sistemas dinâmicos adaptativos e evidencia a relação entre cognição e vida. Sendo assim, o Projeto Pedagógico, deve proporcionar constante intercâmbio com o meio, postura, valores e atitudes coerentes e congruentes aos princípios organizadores da vida, aos processos interativos, dinâmicos e interdependentes da existência. A atuação de professores e tutores deve ser conduzida a partir de metodologias que reconheçam a existência de uma natureza viva e transdisciplinar na construção do conhecimento, diferentes diálogos, diferentes perspectivas (teórico e práticas) e diferentes contextos.
Assim, tutores têm como função geral no Projeto Pedagógico do PEAD “proporcionar motivação, feedback, diálogo, orientação personalizada e orientação coletiva e estabelecer vínculos com cada estudante.” (Guia do tutor) Ainda se pode destacar as funções pedagógica, social e organizativa do tutor. É possível perceber que ao cumprir suas funções, o tutor assiste o Projeto Pedagógico, e serve como um mediador, um facilitador nas discussões, além de realizar intervenções pontuais sempre que necessário. Tal postura e exigências refletem uma preocupação em relação ao alcance dos objetivos do curso, de maneira a garantir e a promover o desenvolvimento de uma inteligência coletiva, da compreensão abrangente do mundo e da possibilidade de transformações na prática e na vida. A vivência de valores como solidariedade, compaixão, ética e evolução (coletiva) facilitam a vida e a aprendizagem, aproximam alunos, tutores e professores e promovem a construção de redes harmoniosas, que constroem a paz e conduzem os indivíduos ao resgate da inteireza humana.

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